terça-feira, 28 de abril de 2009

José Fernandes Leal 

Nasceu aos trinta dias do mês de maio do ano de mil oitocentos e noventa e cinco no distrito de são domingos, município de Mariana, atualmente a cidade de Diogo de Vasconcelos. Filho único do casal Manoel Gomes Coelho Leal e D. Maria Estevão da Silva.

Casou-se com Ana Gomes Leal de tradicional família do distrito de Cláudio Manoel, município de Mariana.

Foi um homem de atitudes definidas e um batalhador incansável arrostando com denodo todas as dificuldades da existência humana.

Como o pai exerceu atividades na área rural e no comércio.

Espírito gregário sabia como poucos viver em sintonia com seus concidadãos granjeando com isso um número incontável de compadres e afilhados.

Com o seu trabalho colaborou para o progresso e o desenvolvimento da região. Inicialmente, transportando mercadorias em lombo de burros, para abastecimento da cidade de Raul Soares e localidades vizinhas o que realmente se constituía em verdadeira aventura pela péssima condição dos caminhos que percorriam. Posteriormente, teve como instrumento de trabalho um caminhão. Um trágico acidente que quase lhe custou a vida e vitimou um amigo e companheiro de jornada levou-o a se desfazer do veículo e fixar-se definitivamente no comércio.

Estabeleceu-se na rua Bom Jesus, transferindo-se anos após para a região central da cidade.

Batizou a sua casa comercial “A Sempre Viva” marcando presença ativa no ramo de armarinhos, ferragens, secos e molhados, como se dizia na época.

Na fase da rua Bom Jesus dedicou-se também à compra de cereais (feijão, milho, arroz e café) que submetidos ao tratamento e beneficiamento devidos mantinha armazenado para comercialização a varejo durante o ano. Interessante prática comercial constatamos em anotações da firma, e entre estas: “fev. 1950 – feijão emprestado para recebimento na colheita – Otávio Lopes – tomou 3 sacos para entregar 4. l/2 sacos.” “Pedro clemente – tomou 40 quilos para entregar 1 saco.” março – 1950 – João Quirino – 2 sacos de feijão ensacado – veio 3 sacos. ” ”Manoel Simão – 2 sacos de Feijão ensacado para entregar 3 sacos, ” “ mundico – tomou 30 quilos de feijão para entregar 45 quilos.” Manteve um intercâmbio constante e ativo com os comerciantes do distrito de Bicuíba que indicavam-no como consignatário para retirar da estação da estrada de ferro Leopoldina as mercadorias a eles destinadas adquiridas de outras praças do país, principalmente do Rio de Janeiro.

Fortes chuvas, certa época, cortaram a ligação da rua Bom Jesus com a rua de Ubá, atualmente rua Padre Chiquinho, tornando mais difícil o acesso à área central da cidade. Custeou, então, a compra, e colocou a serviço da população, um barco para travessia do rio matipó facilitando o acesso à rua de Ubá. Debalde trabalhou, com o apoio do amigo e compadre farmacêutico Alonso rocha, para a construção da ponte.

A sua casa comercial, à noite, convertia-se em ponto de encontro de amigos e fregueses que se deleitavam com os programas de rádio, um dos poucos aparelhos existentes na cidade: Alvarenga e Ranchinho, Jararaca e Ratinho, Almirante, César Ladeira, Carlos Frias, Ari Barroso, Aracy de Almeida, Linda Batista, Dircinha Batista, Orlando Silva, Carlos Galhardo, Francisco Alves e muitos outros do mesmo nível eram os grandes artistas brasileiros daquele tempo.

O velho rádio Phillips contou a história da segunda guerra mundial; de inesquecíveis jornadas esportivas (Copa do Mundo, Campeonato Sul Americano, Copa Roca, Copa Rio Branco, Campeonatos Carioca, Paulista e Mineiro) e da memorável campanha às eleições de 2 de dezembro de 1945 após a volta ao país dos políticos exilados pela ditadura de Getúlio Vargas (Arthur da Silva Bernardes, Octávio Mangabeira, Luiz Carlos Prestes, Washington Luiz, Pedro Aleixo e muitos outros).

Juntou-se a liderança de José Pereira Lisboa na fundação da Associação Comercial, Industrial e Lavoura de Raul Soares sendo eleito para uma das comissões.

Na década de 40 atendeu a várias convocações do poder público para colaborar na solução de problemas de abastecimento.

Durante a segunda guerra mundial, como distribuidor da Texaco recebia querosene periodicamente, produto utilizado como iluminante por boa parte da população. Em sintonia com o poder público organizava-se, então, programa de distribuição de forma a atender o maior número possível de consumidores, sem privilégios.

Certa ocasião, em decorrência de chuvas incessantes, que interromperam totalmente o trânsito na região, séria ameaça havia em relação ao abastecimento em geral, principalmente, de açúcar. Em um trabalho conjunto com o promotor de justiça Dr. José Teixeira de Freitas foi organizado um programa de venda à população através da centralização de todo o estoque da cidade em armazém do Sr. José Calil Nagem, grande comprador de feijão, que no momento estava disponível.

Felizmente, as dificuldades desapareceram antes que o estoque se esgotasse.
Adepto do Partido Republicano Mineiro, Bernardista como se dizia, foi por isso punido com detenção arbitrária, por ocasião da revolução de 30.

Os seus princípios não foram abalados pela perseguição que sofreu. Fiel à liderança do Partido Republicano, que sucedeu ao Partido Republicano Mineiro. Disputou eleição para juiz de paz. Não se elegeu tão somente pela inexperiência política dos responsáveis pela coligação que sustentava a candidatura do prefeito dividindo-se em duas candidaturas para juiz de paz.

O despreparo para a democracia, após quinze anos de Getúlio Vargas no poder, foi motivo de inúmeras perseguições e atentados que atingiram o seu clímax em 31 de janeiro, 10, 11 e 12 de fevereiro do ano de 1946. Incitado por adversários políticos, que se tornaram inimigos, um pobre homem a quem tanto já servira, atentou contra a sua vida quando participava do Santo Ofício da Missa na Capela de Santo Antônio. Por um verdadeiro milagre, a arma do infeliz agressor falhou evitando uma fatalidade de conseqüências incalculáveis.

12 de fevereiro de 1966 marcou o fim da jornada de um batalhador que legou aos seus familiares e à sociedade exemplos de honradez, de muito amor ao trabalho, firmeza em suas convicções e que com muita galhardia soube enfrentar as vicissitudes da vida de um brasileiro comum.

Autoria: José Geraldo Leal

Um comentário:

  1. Zezé,
    parabéns pela biografia de seu pai e meu avô.
    Fiquei maravilhado com a história dele e voltei anos no tempo, recordando-me da "Sempre Viva", onde gostava de brincar, pesando batatas e cebolas.

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