Nasceu aos dezoito dias do mês de maio do ano de mil novecentos e oito, na cidade de abre campo (MG). Integrando-se aos hábitos e costumes de Raul Soares tornou-se um legítimo cidadão raul-soarense.
Casou-se com D. Carmem Fernandes, ponto de apoio e equilíbrio ao desenvolvimento de suas atividades profissionais e de homem público. Pode-se aplicar ao casal o adágio popular: “Por trás de todo grande homem há sempre uma grande mulher”.
De seu casamento nasceram os filhos Amariles, Carlos, José, Júlio, Gerardo e Ivan.
O filho Gerardo foi roubado de nosso convívio ainda muito jovem, de forma abrupta e violenta, interrompendo uma carreira profissional que se antevia de muito sucesso e útil à comunidade.
A força do destino se fez presente.
“Nulla vis humana vel virtus maruisse aunquem potuit ut, quaod praescripsit fatalis orde, non fiat” (Nem força, nem virtude humana, pode evitar que deixe de se cumprir o que o destino tenha prescrito) (ammiano marcelisio – histórias – sec. 23), referido em dicionário de citas.
São falecidos, também, prematuramente, Amariles e Júlio.
Palmilhou com muita sapiência, sagacidade e competência os difíceis e árduos caminhos do Direito, da Justiça e da Política. Foi imbatível no empenho e dedicação às causas que lhe foram confiadas. Não mediu sacrifícios no cumprimento do dever. Foi ético na vida profissional e na sua conduta social. Esteve presente com uma constância invulgar em todos auditórios dos foros das comarcas de nossa região. O seu prestígio e conceito extrapolaram de muito os limites de nosso município. Foi contemporâneo de grandes advogados e magistrados: Dr. Edmundo Rocha, Dr. Dilermando Rocha, Dr. Luiz Domingos da Silva, Dr. José Zeferino Pires, Dr. Hugo de Aquino Leão, Dr. José de Freitas Teixeira, Dr. Lindolfo Paolielo, Dr. José de Oliveira Juncal, Dr. Dulcídio Menezes, Dr. Orlando de Souza e muitíssimos outros de real valor. Foi amigo dileto do professor Edward Leão, escrivão, e do oficial de justiça Sebastião de Oliveira. Conviveu na maior harmonia com todos os demais servidores da justiça. Seguidor pertinaz dos ensinamentos e exemplos do jurista Dr. José Grossi, seu irmão, a quem dedicava admiração e respeito.
Ainda muito jovem, naquela fase de pesquisa e procura, entusiasmou-se por algum tempo com a pregação de Plínio Salgado. Com o processo de redemocratização do país, em 1945, cujos primórdios foi a memorável entrevista de José Américo de Almeida ao destemido jornalista Carlos Lacerda, publicada no jornal “Correio da Manhã”, do Rio de Janeiro, e sintonizando-se com o “Manifesto dos Mineiros”, liderado por Pedro Aleixo, Milton campos, José de Magalhães Pinto, José Monteiro de Castro, Virgílio de Melo Franco, Afonso Arinos de Melo Franco, João Franzen de Lima e outros vultos ilustres de Minas Gerais, filiou-se à União Democrática Nacional - UDN -, sendo eleito secretário do diretório municipal de Raul Soares. Participou com o entusiasmo que lhe era peculiar da mais bela campanha cívico-política da história de nosso país.
Por uma série de distorções eleitorais, no entanto, o grande movimento cívico não culminou com a vitória do brigadeiro Eduardo Gomes, candidato da UDN à Presidência da República. A sua coerência política e a fidelidade às idéias fizeram com que se mantivesse udenista até que transformações na vida política brasileira levaram a UDN à dissolução, presidida por ele a este tempo. Foi eleito deputado estadual em 7 de outubro de 1962, com 4.975 votos, o equivalente a mais de cinqüenta por cento dos votos apurados em Raul Soares. A sua votação, fato pouco comum em eleições proporcionais, foi igual à do candidato à eleição majoritária (prefeito) demonstrando, inequivocamente, o grande prestígio que gozava junto ao povo de Raul Soares.
No juízo de não poucos, foi o maior político na história de nosso município, de todos os tempos. Liderança forte, firme e coerente. Durante o seu mandato tivemos o movimento revolucionário de 1964, sob a liderança civil do governador José de Magalhães Pinto tornando-se, então, um dos correligionários de maior confiança do governador pela sua austeridade e amor à causa pública já demonstrados à sociedade. Missões de alta relevância lhe foram então, confiadas. O seu grande prestígio perante os poderes maiores do estado trouxeram para o município um grande número de obras públicas, básicas para o desenvolvimento de Raul Soares, enumerando-se: criação do Colégio Estadual Regina Pacis e construção do prédio-sede. Para maior dinâmica no desenvolvimento dos trabalhos de construção do prédio escolar o seu saber jurídico e experiência na condução das coisas públicas, indicou a constituição da Fundação Juarez de Souza Carmo, que adquiriu o terreno da fazenda Zenão e executou a obra. Terminada a construção, que acompanhou diuturnamente, como um verdadeiro mestre de obras, ao lado do competente profissional João Paschoal sobrinho, Dinho Paschoal, e considerando a impossibilidade de manutenção de uma escola particular ou sob a responsabilidade do município, foi feita a doação do prédio ao Governo do Estado; construção e mobiliamento do prédio do fórum “José Grossi”; implantação do serviço de água e esgoto do SAAE; abertura e asfaltamento da rodovia MG–329; presença da Cemig e Telemig em nosso município; participou como acionista e membro do conselho fiscal da empresa telefônica local que antecedeu e foi incorporada pela Telemig; a seu pedido o Governador Francelino Pereira, atualmente senador, construiu em Santana do Tabuleiro um magnífico prédio escolar; foi um dos fundadores da Industrial São Sebastião S/A, fábrica de enxadas Tarza, em 1946, sendo membro do seu conselho fiscal durante mais de duas décadas. Sua vida pública ilibada motivou o exercício do cargo de membro do conselho fiscal do Banco de Crédito Real de Minas Gerais S/A, instituição financeira centenária de nosso estado. De certa feita, foi seu nome cogitado para ocupar o cargo de Secretário de Segurança Pública do Governo do Estado de Minas Gerais. Declinou do convite já que não desejava se afastar de Raul Soares e não achava ético ocupar um cargo sem presença efetiva no dia-a-dia de tão importante segmento da administração estadual. cargo meramente decorativo, jamais. Tinha convencimento de que “l’honnête homme est celui que mensure son droit à son devoir “(Homem horado é aquele que mede seus direitos pelos seus deveres), no magistério de J. H. Lacordaire. Costumava dizer que “se o esperto soubesse como é esperteza agir-se honestamente seria, espertamente, sempre honesto”.
Faleceu em 22 de julho de 1984, em Raul soares, desprovido de bens materiais. Mas, cercado do carinho, admiração e respeito de seus familiares e do povo de Raul Soares que tanto amou e serviu.
Foi um exemplo de homem público para muitas gerações.
Autoria: José Geraldo Leal
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