quarta-feira, 29 de abril de 2009

João Paschoal Sobrinho


Aos treze dias do mês de dezembro do ano de mil, novecentos e quinze, nascia em São Geraldo, João Paschoal Sobrinho, mais conhecido por " Dinho", filho de Aleixo Antônio Pascoal e Luiza Trevenzoli, ambos imigrantes italianos vindos dos arredores de Verona e Veneza, na Itália, juntamente com uma leva de italianos, dentro dos porões dos navios.

Em meados de 1917, atendendo ao chamado de um amigo, saíram de São Geraldo em carros de bois, com mudança e tudo, com destino a Inhapim para trabalharem na lavoura.

Como o lugar não agradou à família, pois havia muita doença rondando a região, voltaram novamente usando carros de bois, dormindo ao relento, debaixo das árvores, e resolveram se instalar em Raul Soares, naquela época São Sebastião do Entre Rios, onde passaram boa parte de suas vidas.

Dinho tinha muitos irmãos e irmãs e a grande maioria, depois de adulta, tornou-se profissional liberal, a exemplo do pai Aleixo, que de tudo entendia um pouco: pedreiro, carpinteiro, bombeiro, ferreiro, eletricista, seleiro, artesão, enfim era, pelas circunstâncias daquela época, obrigado a aprender de tudo um pouco para sobreviver, já que o lugarejo não tinha muitos recursos. Das profissões que o pai exercia, Dinho sobressaiu-se com mais galhardia como pedreiro, já que conseguia suplantar seus concorrentes pela esperteza com que erguia as paredes de uma construção. Não era um pedreiro que se esmerava em acabamentos. Seu grande mérito era construir com segurança e rapidez, já que trazia consigo profissionais também competentes de outras áreas como, por exemplo, o bombeiro Som Cardoso e seu secretário Valdir Bombeiro; o funileiro Rodolfo Bardeli; o carpinteiro Liberalino e outros companheiros que também ajudaram a desenvolver a cidade de Raul Soares.

Socialmente, Dinho se sobressaiu como músico pois gostava de cantar, tocar trombone e pandeiro, onde animava alguns bailes na cidade e cidades vizinhas. Conta-se até, segundo as más línguas, de um incidente que o envolveu num dos bailes realizados em Bom Jesus do Galho, quando, num intervalo da música, Dinho teve que tomar um litro inteiro de conhaque, obrigado por um valentão da região, com um revolver no peito, pois, ao tomar um gole, se esquecera de oferecer a bebida aos presentes no boteco. Sábia decisão, pois não sairia de lá com vida se resistisse.

Casou-se em 1945 com Mariana, filha de Joaquim Aniceto de Assis e Dª Raimunda Braga de Faria, constituindo uma grande família, como era hábito daquela época. Foram 9 filhos: Geraldinho, João (não sobreviveu), Luiz, Jorge, Francisco, Ângela, Vera, José Luiz e Sérgio.

Sempre lutando com dificuldades, já que a profissão de pedreiro não lhe dava ganhos substanciais, conseguiu com tenacidade e bravura, criar os filhos com dignidade e entregá-los ao mundo em condições de sobreviverem com honradez.

Atendendo aos apelos do grande amigo Dr. Gerardo Grossi, que não dispensava a sua presença em todas suas obras, particulares ou públicas, concordou em disputar uma cadeira de vereador à câmara Municipal de Raul Soares, como representante dos operários da construção civil. Teve um bom apoio de sua categoria, insuficiente, contudo, para elegê-lo.

Em 1972, na busca de um mercado de trabalho mais atraente e dinâmico mudou-se para São José dos Campos, São Paulo, estimulado pelo velho amigo Hélio Sette. Por lá, continuou trabalhando em empresas como mestre de obras, aposentando-se aos 75 anos.

Aos 80 anos, numa peripécia em sua bicicleta, sofreu um acidente quebrando o fêmur, o que o levou a ficar paralisado por um longo período. Vitimado por derrame cerebral veio a falecer aos vinte e oito dias do mês de novembro de mil, novecentos e noventa e oito.

Deixa, para alegria de seus descendentes e amigos, o exemplo de um homem trabalhador, honrado e íntegro. Tal como o pai as suas únicas ferramentas foram: os braços para o trabalho e a cabeça privilegiada para conduzi-los.

Foi um privilégio a convivência com Dinho, ouvir seus casos de pescarias e as suas "franquezas", participar de suas aventuras e desventuras e também um pouco de sua intimidade. Enfim, a vida é uma mistura de alegrias e tristezas, no meio de uma quase que total insegurança. A vida de Dinho foi um exemplo de luta e integridade que dignifica um ser humano.

Autoria: Geraldo Pascoal

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